O casamento, tão útil ao homem e à mulher quanto à sociedade,
deve ser um recíproco dar e receber de valores e sacrifícios.
Algumas inabilidades, embora inconscientes, são, muitas vezes,
motivos de fracassos na união tão necessária à vida em comum.
Casamento deve ser palavra de honra empenhada por duas vidas que
se propõem caminhar lado a lado, levando à frente resistência e perseverança,
deixando atrás egoísmo.
Na união de esposos, relacionam-se intimamente amor e
liberdade: ambos se acham em mútua dependência, mas uma coisa é a liberdade
para o indivíduo isolado, outra para o casal. Pensar em liberdade, tendo em
vista apenas o eu, é puro egoísmo.
A cada um dos cônjuges, refletindo bem sobre as exigências da
vida em comum, compete traçar, livremente, os limites da própria autonomia.
Casamento só é laço indissolúvel quando os dois cônjuges
colocam, acima dos interesses pessoais, um bem comum — o dos filhos.
Para casar, não basta à mulher entender de tarefas domésticas
nem ao homem ocupar cargos de destaque. É necessário que ambos possuam coragem
para vencer os obstáculos e educação para se respeitarem mutuamente.
Pela
educação se consegue, progressivamente, inibição de tendências agressivas e
depressivas através de grande esforço moral. Trocas de palavras pesadas deixam
cicatrizes que dificilmente se apagam; julgamentos injuriosos e perguntas
humilhantes degeneram em conflitos.
A harmonia afetiva entre os pais é tão importante na educação da
prole, que deve ser cultivada mesmo à custa de sacrifício. Os choques e atritos
dos filhos, da infância à adolescência, são frutos da desarmonia dos pais. Se
esses pensassem na influência que, unidos, exercem sobre a segurança dos
filhos, certamente reagiriam contra a mania da época de resolver os menores
casos domésticos pela separação dos cônjuges.
Impõe-se que marido e mulher se compreendam reciprocamente,
evitando assim a separação de corpos, mas principalmente a de almas.
Esta pode
iludir os outros, não os filhos, que são os primeiros a perceber as fendas do
edifício que vai ruir. Mesmo que, com os pais separados, a criança tenha o amor
isolado de cada um, faltar-lhe-á sempre a presença dos dois que concorrerá para
seu harmônico desenvolvimento.
Nos lares bem formados, esta é a lei fundamental: paz na ordem.
Se os filhos não encontram acordo entre os pais, procuram conquistá-la por si,
criando-a por conta própria, o que, na maioria dos casos, é processo falso e
perigoso.
Muito difere a vivência dos noivos da dos casados. Entre os
primeiros, há uma forte atração afetiva, cheia de esperanças e ilusões. Esse
sentimento, porém, vai morrendo com o casamento, mas, em compensação, vai sendo
substituído por outro repleto de generosidade.
Educação é atividade permanente, que acompanha o homem até a
morte.
Eduquem-se, pois, os pais no sentido de tornar o lar um verdadeiro
centro de atração da família, aproveitando todas as oportunidades.
O diálogo
entre marido e mulher, entre pais e filhos, tão importante, deve ser útil e
agradável. A hora das refeições é uma das boas oportunidades e será sempre o
momento propício à recreação, mas nunca aos sermões, às censuras e discussões.
Mau humor e silêncios sombrios podem abrir úlceras no estômago e feridas na alma.
Não passa despercebido às pessoas observadoras que é muito comum
a mulher colocar o comportamento materno à frente do comportamento conjugal.
Fato oposto se nota em relação ao homem. É uma questão de sexo, mas tal
divergência não constituirá um problema se houver habilidade e compreensão,
principalmente por parte da esposa.
A principal preocupação dos pais deve ser a assistência aos
filhos, cujo organismo moral necessita da proteção deles a fim de enfrentar o
mundo lá fora. Seguros da atmosfera sadia que respiram em casa, os filhos
sentem que há, a seu dispor, um lugar que lhes pertence por direito.
Nada temem
porque têm a certeza de não serem expulsos e a segurança de não serem
abandonados. Beneficiam-se desses triunfos que são suficientes para que possam
experimentar as próprias forças e ir formando a personalidade.
É a experiência
social, mas ainda existe outra bem séria, a que leva o adolescente a firmar-se
numa atitude masculina ou feminina diante da vida.
Os exemplos conjugados do
pai e da mãe conduzirão ao êxito tal experiência que se baseia na educação do
sentimento. No meio resguardado da família, os filhos tomam por modelo os pais
e aprendem como o homem e a mulher, com o casamento tornando-se dignos, são
capazes de conquistar um amor recíproco.
Harmonia conjugal
Por Olga Brandão de Almeida
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