Muitos males resultantes dos desajustamentos teriam remédio, se
houvesse a coragem de um sentimento de culpa.
Se o homem é um ser moral e vive num ambiente ético, todos os
seus atos devem ter um índice de valor positivo ou negativo cujas consequências
variam na razão direta.
O adulto com senso de responsabilidade se impõe deveres e
cumpre-os por mais insignificantes que sejam; não procura inocentar as faltas
com motivos fúteis; não mente aos outros nem a si mesmo; não graceja com coisas
sérias.
Por tudo isso é impossível colocar os conflitos humanos no campo
psicológico, banindo o fator moral.
O indivíduo só não assume a responsabilidade de seus desacertos
nos casos dolorosos de ausência de sanidade mental.
Pouco adiantam os conselhos do psiquiatra, se o paciente não
compreender que, despido de virtualidades, atrairá como um ímã soluções erradas
para seus problemas. É difícil, não resta a menor dúvida, alcançar, numa
situação embaraçosa, sentimentos nobres.
Vive o homem numa densa atmosfera de
vaidade e egoísmo proveniente de uma falsa educação de vários séculos. Mas a
criatura esclarecida sabe colocar o consciente num plano superior ao do
subconsciente e superar os tristes casos em que num momento de fraqueza se
deixou envolver.
Urge que o progresso do mundo acompanhe os sentimentos elevados
para que todos se compreendam e desfrutem uma vida melhor.
Nos conflitos matrimoniais que provocam a separação, por que não
reconhecer a culpa de um dos cônjuges, ou a dos dois? Só assim haveria uma base
para solucionar os casos por uma forma humana, sem parcelas de egoísmo, visando
à estabilidade do lar e preservando o futuro dos filhos. Mas para isso é
necessário adquirir forças capazes de atrair bons sentimentos como
generosidade, espírito de tolerância e até mesmo comiseração.
Erram os que pensam que a amizade entre duas pessoas está na
base de uma confiança absoluta. O ser humano, cuja força que o anima é
partícula do Grande Foco, está sujeito às circunstâncias do meio e
evidentemente seus conflitos são puramente morais, só tendo uma solução
racional se houver um reconhecimento de culpa seguido de um ato de
generosidade.
Para aqueles a quem falta a coragem de uma confidência, aqui vai um conselho, digo, fórmula que constitui belo símbolo de virtude: “Na Provença antiga, antes do acender das luzes na noite de Natal, apagavam-se os candeeiros. No pudor da escuridão, reconciliavam-se, com um beijo, aqueles que, no decorrer do ano, tinham sido apartados por desavenças”.
Sentimento de culpa
Por Olga Brandão de Almeida
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