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O meio afetivo familiar é
sua maior força e, por isso mesmo, o menor desequilíbrio na coexistência dos
pais causa-lhe sérios transtornos. Tão íntima é essa relação de pais e filhos
que até mesmo a neutralidade afetiva entre os cônjuges se faz sentir na conduta
da prole.
Mesmo que a criança, numa
situação anormal, encontre alguém que lhe substitua a mãe, os fatos reais
mostram, claramente, os problemas que surgem com essa condição.
Os desajustes entre o pai
e a mãe são um verdadeiro suplício para os filhos, que anseiam pelo amor dos
dois, unidos, a seu redor, mas repelem ser amados em separado, embora supondo
que a dose de afeição seja a mesma. Falta-lhes, quando falta a estrutura
familiar, alguma coisa que constitui o elemento indispensável para o
desabrochar de sua personalidade.
Cada cônjuge tem sua
contribuição afetiva para a garantia de uma vida tranqüila, que se propõe dar
aos filhos.
Implicâncias, brigas,
ralhos, encontrados de um modo geral nas relações familiares, não quebram o elo
de amor e zelo, que devem unir os membros da família. Muitas vezes até marcam
um interesse comum de adaptação de idade e sexos diferentes.
Mas, se no âmbito moral o
amor é o aspecto nutritivo da família, não constitui o único, porque a criança,
ao lado das necessidades receptivas, tem necessidades ativas: precisa fazer
alguma coisa, tentar experiências e, nesse constante arrebatamento, encontra-se
muitas vezes em situações perigosas. Mais fraca que os descendentes dos animais
irracionais, é incapaz de viver pelos seus próprios meios, necessita de
proteção para enfrentar as exigências da vida.
A função da família é
amortecer os primeiros choques, e a educação visa interpor-se entre a criança e
as reações que seu comportamento pode desencadear. Os pais se excedem nesse
mister, colocando um verdadeiro muro de proteção entre o filho e as conseqüências
de suas próprias reações. O resultado é dissimularem a realidade da vida não só
no terreno material como no social e moral.
Mas, assim mesmo, com
todas essas falhas, o pequeno ser encontra na família um refúgio. Tem em casa
um lugar que lhe cabe por direito. Aí respira uma atmosfera sadia e não teme
ser mandado embora nem abandonado. Esses triunfos lhe proporcionam novas forças
para prosseguir nas experiências sem prejuízo de segurança. Seu organismo físico,
enquanto se formava, precisou da vida intra-uterina, mas agora o espírito
requer proteção da vida familiar, antes de adquirir energias suficientes para
enfrentar a sociedade humana.
Além da experiência
social, esboça-se no ambiente familiar outra mais difícil e talvez de consequências
mais sérias. É justamente a que conduz a criança a uma atitude masculina ou
feminina diante da vida. Quando descobre que há dois sexos, deve colocar-se
pelo sentimento num dos dois pólos. Procura amoldar-se à conduta dos pais. O comportamento
da mãe, a função protetora do pai, são vistos com agrado e entusiasmam-na para
as boas iniciativas.
Sendo a criança mutável
pela própria fraqueza, necessita da convicção tranqüilizadora da segurança do
lar para suportar o peso do mundo que a envolve. Mais tarde, com o decorrer dos
anos, vai encarar o lar como um refúgio, não do cárcere onde só há desejo de
evasão, mas de um porto onde se sonha regressar em breve escala.
Quando, porém, esse
refúgio se desagrega, é que se compreende melhor sua necessidade: a
personalidade da criança corre o risco de desconjuntar-se ao mesmo tempo.
Professores e médicos recolhem
preciosos documentos de crianças vadias, nervosas, atrevidas, amorais em conseqüência
de lares desfeitos.
Infelizmente, a criança é
sempre a primeira a perceber a fenda do edifício prestes a ruir e muitas vezes
a ameaça da destruição causa-lhe maiores males que a própria catástrofe.
A família é um meio
heterogêneo porque oferece diversidade de personagens e por isso representa um
pequeno mundo. É diferente, porém, dos meios artificiais criados para os filhos
sem lar.
Para construir-se a si
própria, a criança tem necessidade de um modelo. Procura identificar-se com os
pais que tem sempre sob seus olhos. Mas se é tonificante identificar-se alguém
com outrem mais forte, torna-se, pelo contrário, debilitante essa identificação
com um mais fraco ou tão fraco quanto a própria pessoa.
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Através dos pais (de sexos diferentes) a criança se situa num mundo conforme o sexo a que pertence e em relação ao sexo a que não pertence.
Nem todas as famílias são
perfeitas, e, se as imperfeições se refletem através dos filhos, urge que a
sensibilidade infantil seja compreendida, não como uma condenação ao meio
familiar, mas como prova de sua importância vital.
A influência dos pais na
vida dos filhos
Por Olga Brandão Cordeiro
de Almeida
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