;”>Educação não consiste apenas em boas maneiras, é algo mais amplo, mais profundo, porque envolve o desenvolvimento da vontade, os problemas da saúde física, da higiene mental, da formação moral. Olga Brandão de Almeida;

Um flagelo da época - Professora Olga Brandão de Almeida

O progresso acelerado da época, embora criado pelo homem, oferece-lhe sérios obstáculos, principalmente nas grandes cidades, onde muita coisa é contra a natureza.

Não basta que a humanidade aprenda a preservar-se dos nefastos efeitos das máquinas, mas importa aprender a defender-se dos efeitos fisiológicos e psicológicos da trepidação de ideias e sentimentos. Os atuais exercícios de relaxamento são uma prova da necessidade de repouso e distensão para enfrentar o nível desta civilização super mecânica.
Clique para OUVIR a Limpeza Psíquica

Atualmente, não espanta que haja filhos, pais e famílias nervosos. Férias, acréscimo de descanso, diminuição de horas de trabalho não são bastantes para restabelecer o equilíbrio, se o ritmo de velocidade e a agitação continuam.

Muitos são os indivíduos que se habituaram de tal modo a ser arrastados por um ritmo enervante, que se aborrecem quando dele não fazem parte.

O nervosismo é uma das características do século. Hoje, é indispensável uma reflexão a respeito da maneira de educar os filhos.

Afirmou certo psicólogo que atribuir à psicologia os defeitos das crianças é uma ideia tão vazia quanto afirmar que a doença se deve à intervenção da medicina. O que tudo falseia é a extensão do nervosismo sem controle dos pais.

Pessoas nervosas não têm condições para educar: cansam os que as cercam e ainda mais as crianças.

Existem indivíduos que, cozinhando a irritação, devoram-se por um temor obsessivo, têm pensamentos depressivos de todas as espécies: misturam-se temores, projetos e escrúpulos que raramente terminam em realizações coerentes. Pior é o explosivo, continuamente temido pelas pessoas de casa, que não conseguem compreender o porquê.

Qualquer incidente, por mais insignificante, é o bastante para transformá-lo numa pesada atmosfera. O calmo, artificial é emotivo e sempre magoado. Empregando grande esforço para dominar-se, dispende muita energia, o que lhe é prejudicial.

Nenhum desses aspectos passa despercebido às crianças. Possuindo antenas para perceber as tensões que devoram os pais, reagem a seu modo: em vez de consolarem ou acalmarem, são impelidas a jogar palha na fogueira, tornando-se insuportáveis. Mas são verdadeiras vítimas, pois, contagiadas pelo nervosismo dos adultos, não são capazes como estes de se conterem.

Nervosismo secreto engendra mais angústia que nervosismo manifesto. E a angústia das crianças é traduzida por instabilidade, mau humor, indocilidade, insolência.

Num clima trepidante, criado pelos pais, não se pode exigir uma juventude estudiosa, perseverante e aplicada.

A escola de pais seria ótimo recurso para alertá-los sobre as diversas reações das crianças educadas por nervosos: ora inteiramente esmagadas, tornam-se tímidas e gaguejantes por não ousarem exprimir tudo que lhes vai na alma; ora imitam-lhes o comportamento.

Diante disso, há premente necessidade de remediar o humor dos pais tão importante no comportamento das crianças, base de civilização.

Fiquem bem certos os cônjuges de que acima do controle pessoal há alguma coisa a conquistar que não custa dinheiro e que se chama segurança.

Seguros da boa união dos pais, os filhos suportam lhes bem melhor o nervosismo, pois ficam seguros do espírito de compreensão que os liga.

As condições familiares têm que ser favoráveis: mas quaisquer que sejam, o importante é não dramatizar, porque quanto mais se procura enganar mais as coisas se agravam. O melhor para reparar uma gafe é fingir que não a percebeu.

Se for prejudicial exagerar manifestações de nervosismo, pior ainda é justificá-las. Falsas justificativas não enganam ninguém.

Clique para OUVIR a Limpeza Psíquica
Sem abordar conselhos médicos, importa fazer uso da higiene mental, que consiste em dividir o tempo consagrado ao trabalho (profissional e doméstico) e às crianças e entre o que é necessário gastar com o repouso e as distrações.

Existem pais que desprezam os filhos em proveito de futilidades e muitos que não se permitem o menor descanso, de tanta utilidade a si e aos filhos. Recusam-se certas mães sair com os maridos, por haver tanta coisa a fazer. Claro que, numa casa, há sempre o que fazer, mas é preciso saber dar limites à atividade.

O modo como se realiza o trabalho tem mais importância que a quantidade de trabalho realizado. Cansaço é inimigo de perfeição. Os filhos só têm a ganhar com pais unidos e calmos.
Se as necessidades fundamentais das crianças se firmam no amor, segurança e atividade, também é necessário que as atividades essenciais dos pais sejam satisfeitas.

Entre os piores flagelos da época, encontra-se a falta de equilíbrio geral da vida na luta contra o nervosismo. Importa aprender a resistir os movimentos interiores capazes de arrastar fora dos limites.

A vida social seria impossível se todos se deixassem governar pelas emoções, mas o excesso de controle também é um defeito porque a falta de espontaneidade torna as relações humanas inviáveis.

Um flagelo da época
Professora Olga Brandão de Almeida

Colaboração: Rute Helena Macário
Fonte: Jornal A Razão – 20/05/1975