O
progresso acelerado da época, embora criado pelo homem, oferece-lhe sérios
obstáculos, principalmente nas grandes cidades, onde muita coisa é contra a
natureza.
Não
basta que a humanidade aprenda a preservar-se dos nefastos efeitos das
máquinas, mas importa aprender a defender-se dos efeitos fisiológicos e
psicológicos da trepidação de ideias e sentimentos. Os atuais exercícios de
relaxamento são uma prova da necessidade de repouso e distensão para enfrentar
o nível desta civilização super mecânica.
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Atualmente,
não espanta que haja filhos, pais e famílias nervosos. Férias, acréscimo de
descanso, diminuição de horas de trabalho não são bastantes para restabelecer o
equilíbrio, se o ritmo de velocidade e a agitação continuam.
Muitos
são os indivíduos que se habituaram de tal modo a ser arrastados por um ritmo
enervante, que se aborrecem quando dele não fazem parte.
O
nervosismo é uma das características do século. Hoje, é indispensável uma
reflexão a respeito da maneira de educar os filhos.
Afirmou
certo psicólogo que atribuir à psicologia os defeitos das crianças é uma ideia
tão vazia quanto afirmar que a doença se deve à intervenção da medicina. O que
tudo falseia é a extensão do nervosismo sem controle dos pais.
Pessoas
nervosas não têm condições para educar: cansam os que as cercam e ainda mais as
crianças.
Existem
indivíduos que, cozinhando a irritação, devoram-se por um temor obsessivo, têm
pensamentos depressivos de todas as espécies: misturam-se temores, projetos e
escrúpulos que raramente terminam em realizações coerentes. Pior é o explosivo,
continuamente temido pelas pessoas de casa, que não conseguem compreender o porquê.
Qualquer
incidente, por mais insignificante, é o bastante para transformá-lo numa pesada
atmosfera. O calmo, artificial é emotivo e sempre magoado. Empregando grande
esforço para dominar-se, dispende muita energia, o que lhe é prejudicial.
Nenhum
desses aspectos passa despercebido às crianças. Possuindo antenas para perceber
as tensões que devoram os pais, reagem a seu modo: em vez de consolarem ou
acalmarem, são impelidas a jogar palha na fogueira, tornando-se insuportáveis.
Mas são verdadeiras vítimas, pois, contagiadas pelo nervosismo dos adultos, não
são capazes como estes de se conterem.
Nervosismo
secreto engendra mais angústia que nervosismo manifesto. E a angústia das
crianças é traduzida por instabilidade, mau humor, indocilidade, insolência.
Num
clima trepidante, criado pelos pais, não se pode exigir uma juventude
estudiosa, perseverante e aplicada.
A
escola de pais seria ótimo recurso para alertá-los sobre as diversas reações
das crianças educadas por nervosos: ora inteiramente esmagadas, tornam-se
tímidas e gaguejantes por não ousarem exprimir tudo que lhes vai na alma; ora
imitam-lhes o comportamento.
Diante
disso, há premente necessidade de remediar o humor dos pais tão importante no
comportamento das crianças, base de civilização.
Fiquem
bem certos os cônjuges de que acima do controle pessoal há alguma coisa a
conquistar que não custa dinheiro e que se chama segurança.
Seguros
da boa união dos pais, os filhos suportam lhes bem melhor o nervosismo, pois
ficam seguros do espírito de compreensão que os liga.
As
condições familiares têm que ser favoráveis: mas quaisquer que sejam, o
importante é não dramatizar, porque quanto mais se procura enganar mais as
coisas se agravam. O melhor para reparar uma gafe é fingir que não a percebeu.
Se for
prejudicial exagerar manifestações de nervosismo, pior ainda é justificá-las.
Falsas justificativas não enganam ninguém.
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Existem
pais que desprezam os filhos em proveito de futilidades e muitos que não se
permitem o menor descanso, de tanta utilidade a si e aos filhos. Recusam-se
certas mães sair com os maridos, por haver tanta coisa a fazer. Claro que, numa
casa, há sempre o que fazer, mas é preciso saber dar limites à atividade.
O modo
como se realiza o trabalho tem mais importância que a quantidade de trabalho
realizado. Cansaço é inimigo de perfeição. Os filhos só têm a ganhar com pais
unidos e calmos.
Se as
necessidades fundamentais das crianças se firmam no amor, segurança e
atividade, também é necessário que as atividades essenciais dos pais sejam
satisfeitas.
Entre
os piores flagelos da época, encontra-se a falta de equilíbrio geral da vida na
luta contra o nervosismo. Importa aprender a resistir os movimentos interiores
capazes de arrastar fora dos limites.
A vida
social seria impossível se todos se deixassem governar pelas emoções, mas o
excesso de controle também é um defeito porque a falta de espontaneidade torna
as relações humanas inviáveis.
Um
flagelo da época
Professora
Olga Brandão de Almeida
Colaboração:
Rute Helena Macário
Fonte:
Jornal A Razão – 20/05/1975